Ele queria fujir e encontar seu refúgio, o seu pobre coração já não aguentava aquelas dores, seu corpo já não suportava todas as pancadas que recebia repetidamente, ele queria fugir pra longe embora soubesse que não seria procurado, que seria dado como morto, assassinado a sangue frio em qualquer assalto na rua 23. Ele correu pela floresta das sombras sem destino, sem projetos, sem nada. Apenas um barulho na sua cabeça como um sino de uma igreja qualquer que o perturbava como um passado do qual ele buscava apagar. Já era noite e nada mais se via, mais se ouvia de tudo como corujas gritando ou pisadas nos galhos secos, decidiu prosseguir mesmo assim andando no escuro sem se preocupar com o que encontraria.
Pobre garoto, a vida foi bem mais que injusta pra alguém que não aprendeu a lutar, ele se defendeu o quanto pôde e correu quando sabia que a derrota era certa, chega de sangue, de lágrima, de dor, ele foi atrás de descanso. Encontrou lá muito longe um moinho abandonado decorado com um espantalho e corvos que ali se alimentavam de um animal já morto. Dentro do moinho encontrou um bilhete colado na parede riscada que dizia: "os bosques são adoráveis escuros e profundos mas eu tenho promessas a cumprir e milhas à trilhar antes de dormir" era uma velha frase de um autor que ele amava. Mas finalmente aquela frase fazia algum sentido. Ele encontrou uma estrada e decidiu prosseguir andando.
Aquela estrada era bonita e estreita, olhando pro lado ele reparou uma delicada flor linda como o por do sol, 'jonezy' a flor, era amarela e grande, que se destacava entre todas as árvores, aquela flor não era comum ela só aparecia na hora mais quente, e quando o horário apontava meio dia aquela flor abria e encantava. Como ele.
Aquele garoto não sabia o que encontraria pela frente, na verdade ele nem sabia se encontraria algo. Ele não queria saber de ser feliz, já era tarde pra isso, ele queria não sentir mais dor e poder descansar a cabeça sem que o barulho dos sinos o perturbassem. Ele deixou para trás seus medos e seus sonhos, ele guardou em uma lata seus desejos e jogou no mar do esquecimento.
A sua história não terminaria ali, em algum lugar por onde esteja, andando por qualquer estrada ele vai se lembrar do que já viveu, ouvir os sinos e vai fugir novamente, porque seu destino é correr de seus segredos e se esconder se seu passado. Caso o encontre, não pergunte para onde ele vai, apenas o deixe ir.
Por: Alexandre Andrade